Organizar o currículo acadêmico na Plataforma Lattes é mais um dos desafios do pós-graduando. Como se já não fosse suficiente “só” estudar [recomendo um texto hilário do Daniel Angrimani], preparar trabalhos para apresentar em eventos, escrever artigos, fazer relatórios, dar cursos, fazer estágio de docência, preparar aulas, ler, escrever, ler, reescrever, ler de novo, reescrever (acho que você já entendeu); precisamos manter atualizado nosso Lattes.
Como disse sabiamente um professor em uma palestra, o Lattes é o Orkut acadêmico (faz tempo e o Facebook não era a moda da vez, ainda). Sim, os que já se contaminaram pelo vírus acadêmico acompanham a produção dos colegas. Eu assumo o mea culpa e olho com certa periodicidade o Lattes dos colegas e professores. Principalmente antes de fazer um concurso. É paranoia, eu sei (já me disseram), mas analiso quantos artigos já publicou e tal para calcular os pontos do concorrente.
Deixando um pouco de lado minha insensatez (jeito bonito para dizer doida), vamos ao preenchimento dessa plataforma. São muitos campos a preencher e sem instruções claras. Muita gente já escreveu dicas para o preenchimento, com explicações e tutoriais. Há, inclusive, um espaço para esclarecimento de dúvidas dentro da plataforma. Fica ali no cantinho superior direito, do lado da portinha de sair. O problema é que não há esclarecimento propriamente dito! Por exemplo, cliquei aleatoriamente no item ‘Projetos’ e há a seguinte explicação sobre o preenchimento:
Projetos de pesquisa: Informações dos projetos de pesquisa.
Pessoas, eu realmente copiei e colei, tá? E, para aumento do meu desespero, o esclarecimento sobre onde colocar no meu Lattes o texto elaborado para este site, olha a explicação:
Redes sociais, websites e blogs: Trata-se de área para inclusão de produções em redes sociais, websites e blogs.
Eu sinto duas coisas ao ver isso: primeiro que as explicações são cíclicas, não esclarecendo nada além do óbvio, já que qualquer um que leia “produção>blog” vai entender que o post de blog deve ser colocado ali. As minhas dúvidas são em relação ao tipo de blog. O que me leva ao segundo sentimento: o de falta de valorização deste tipo de produção. Sim, porque para os artigos há os com ISSN e os que não valem nada (antigamente podiam valer o papel e a tinta, hoje nem isso).
Dentro destes com registro na Biblioteca Nacional, há os com Qualis e os outros. E ainda há toda uma hierarquia de Qualis A1 (the best), passando por onde circulam os mortais, até o C, que, apesar de ser classificado, não é recomendado. Por isso, como classificar um blog ou um site? Ter um Facebook vale alguma coisa? (pergunta retórica).
Quem tem familiaridade com a internet sabe que um blog/site relevante é o que tem muitas visualizações (na casa dos milhares por dia, não dezenas, como o meu blog pessoal) e interação. Por isso é importante comentar, compartilhar e disponibilizar o conteúdo em diferentes páginas da web. Porque, convenhamos, eu não coloco no meu Lattes os meus textos do blog pessoal, visualizados por umas 50 pessoas cada um. Agora, um texto publicado em um site com milhares de visualizações, uma rede de colunistas e um editor (sim, o texto é lido e aprovado ou reprovado, como na avaliação por pares das revistas com Qualis) pode aparecer no Lattes, na minha modesta opinião.
Então, porque não começar a considerar os textos publicados em sites e blogs? A Plataforma até inovou ao incluir esta possibilidade no ano passado, mas a Academia ainda não vê com muita seriedade essa opção. E olha que tem muita gente ganhando dinheiro e visibilidade com blog! Pensem comigo: quem recebe mais acesso, um blog de destaque ou uma revista com Qualis A1?
Por causa de tudo isso (e há muito mais para refletir, mas deixarei para outro texto) me parece fundamental que o Cnpq (tem alguém aí?) desenvolva uma ferramenta de ajuda realmente eficaz. Senão vamos continuar pedindo ajuda aos colegas, aos professores e às santas criaturas que tentaram entender como se preenche aquilo e tentaram explicar.
Texto escrito por Chris Royes Schardosim – Bolsista de pós-graduação há muito tempo.
PS: Este texto foi enviado e publicado originalmente no posgraduando.com (para ler AQUI) em agosto de 2013.