Corrigir o projeto de tese é
muito mais difícil do que escrevê-lo. Acreditem.
Pensem comigo: você passou o
último mês trabalhando intensamente na elaboração do texto para a qualificação,
entregou para o orientador e uma semana depois recebe a tese de volta [sim,
minha orientadora é ótima e responde rápido].
Imaginem aquele frio na barriga
ao folhear as páginas: correções e sugestões em todas elas. Dezenas de
comentários e perguntas que não sei responder. E agora, José?
Claro que um texto é,
intrinsecamente, inacabado. Mas o orientador não sabe disso. Agora você precisa
corrigir tudo e entregar pronto e perfeito em duas semanas. Sim, pois a data da
qualificação já está marcada, com a banca confirmada. Descansar é para os
fracos, como diz um primo meu.
Não sou boa em matemática (por
isso não fiz Engenharia e sim Letras), mas duas semanas são equivalentes à
metade do tempo gasto para fazer a primeira versão, certo? E, tentando brincar
com os números, é somente o dobro do tempo gasto para a leitura.
Por isso, reescrever é uma arte.
É preciso refazer todo o texto, mantendo o texto inicial, mas com as
modificações sugeridas. E, de preferência, outras mais, já que o orientador às
vezes muda de ideia na hora de revisar o texto.
Claro que sim. Tentem visualizar
um único orientador com, digamos 8 orientandos (escolhi este número porque é a
nova regra da Capes, embora não corresponda à realidade), cada um com sua
dissertação/tese. A cada leitura, o orientador está diante de um texto novo.
Aquilo de “lembra como estava antes?” é impossível. [pensem sobre isso se estão
fazendo a pós-graduação para seguir a carreira acadêmica]
O processo de reescrever envolve
lidar com a frustração de ter tido o texto reprovado, com a paciência em lidar
novamente com aquele texto que já tomou um mês da sua vida, com a sabedoria de
encontrar as palavras certas (santo Google!) e com a insistência de fazer mais
uma vez. Sim, eu estou passando por isso agora. Deu pra perceber, né?
Pois bem, enquanto estou aqui
escrevendo este texto para tentar descansar [hein?] da escrita do outro,
aguardo que as ideias voltem a fluir e saiam da minha linda cabecinha para a
tela do computador. Que mundo perfeito seria se a tese fosse escrita com a
mesma facilidade, fluidez e velocidade quanto se escreve um texto como este
aqui.
Ps: Este texto foi originalmente publicado no site posgraduando.com em 5 de agosto de 2013. Essa foi minha primeira contribuição para o site e fiquei muito feliz em ser aceita. Sou fã deles há muito tempo!
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